DIVINO ESPÍRITO SANTO DE DEUS!

Divino Espírito Santo de Deus, que derrama sobre todas as pessoas as graças de que merecemos, hoje e sempre nos acompanha nas trajetórias de nossas vida. Amém.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

MINHA ÁRVORE DE NATAL




MINHA ÁRVORE DE NATAL

Gracinda Calado

Pensei fazer uma árvore com tudo de bom que eu tenho guardado.
Como as grandes árvores que conheço, inicio pelo ‘começo’.
Na raiz ponho adubo, que é o amor do meu coração.
Meu fertilizante preferido é o carinho, a amizade, a união.

No seu caule forte e viçoso, a gratidão de meus filhos e o calor de meus netos.
Minha árvore é bem florida!
Nos seus galhos toda a força e seiva da vida!
Galhos frondosos, muito verdes, cartões postais verdadeiros.
Meus irmãos, meus amigos, as amizades escolhidas.
Em sua copa, lembranças dos meus pais tão queridos!

Na ponta de cada galho uma luz, assim a árvore fica enfeitada,
E no dia do aniversário de Jesus, vou com ela adorá-lo.
Lá no alto, no galho mais distante, para que todos vejam minha árvore.
Colocarei uma faixa, toda feita de orvalho: “Hoje é aniversário”,
De um menino prodígio.
De tanto amar o seu povo, morreu no madeiro sagrado”.

As flores de cada galho são vermelhas de carinho,
São brancas e perfumadas, carregadinhas de paz.
Algumas são amarelas, são como o ouro de ofir
Outras são multicores, são jóias de primaveras.
Jesus morreu / Ressuscitou para maior glória da gente,
Um dia voltará glorioso, triunfante e reluzente!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


MINHA TERRA ( Baturité )
Gracinda Calado

Minha terra abençoada,
Em dias de novena,
Ou em dias de procissão,
Todos pagam promessas,
Na minha santa da Palma.
Depois da reza a oração,
Pedir a Deus seu perdão.

Minha terra adorada,
Quantas saudades de lá,
Dos serões nas calçadas,
Das noites de lua cheia,
Das serenatas dolentes,
Um dia haverei de voltar!

Minha terra que saudades...
Das tuas lindas lapinhas,
Dos folguedos no são João,
Das fogueiras e dos balões,
Das quermesses na matriz,
Da festa da padroeira,
Das rezas a noite inteira,
Dos terços e das novenas,
Nas casas de devoção,
Minha terra alvissareira,
Irei cantar-te horas inteiras.

Minha terra das flores,
Dos chorões e dos jasmins,
Das palmeiras e dos jardins,
Das roseiras e dos bosques,
Das flores e das canções,
Dos dias de primaveras,
Dos invernos e dos verões,
Dos outonos tão sutis,
Das noites e dos coretos,
Dos passeios na avenida,
Dos poetas amadores,
Dos fiéis cantadores.



terça-feira, 9 de dezembro de 2008


ATRAVÉS DA JANELA
Gracinda Calado

Através da minha janela vejo a vida passar docemente.
Homens que passam ligeiro em busca de seu ganha pão,
Mulheres que andam depressa na esperança de chegar primeiro.
Crianças que correm para a escola, levam no braço a sacola.
Já é hora de estudar!

O dia começa e com ele a esperança de um dia melhor,
Um dia promissor, alvissareiro, para os que trabalham o dia inteiro.
Através da minha janela, jovens se divertem jogando bola na rua;
Um casal de velhinhos sorridentes vai em busca de um jardim,
Vai em busca de alentos para seus prantos,
Enquanto a vida, docemente lhes prepara um novo encanto.

Casais de namorados felizes de braços dados,
Abraçados, trocam juras de amor.
Enquanto olho a janela, meu peito bate forte a saudade que ficou;
Ficou a saudade de um amor ausente e uma lembrança presente.
Aquele banco lá da praça também conta uma história de amor.
No jardim, as flores lembram um passado que já se foi e não voltou!
Através da minha janela vejo a vida passar lentamente...

sábado, 29 de novembro de 2008

BATURITÉ


BATURITÉ

Gracinda Calado

Cidade que recebe as delícias da natureza, encravada que é ao sopé das serras que formam o maciço do mesmo nome. Também conhecida como serra verdadeira, capital do Maciço de Baturité.
Cidade sesquicentenária onde dormem histórias e pessoas que fizeram parte de sua vida.
Em suas ruas homens e mulheres viveram sonhos embalados pelo frescor de seu clima, pelo cheiro do café, pelo manancial de suas águas.
No seu coração o imenso amor de seus filhos até hoje pulsa forte e transborda em todos os cantos da terra por onde andam...
O seu céu é um manto estrelado azul, como o manto de sua padroeira, nossa Senhora da Palma, festejada com muita fé, no dia 15 de Agosto.
Seus filhos e filhas nasceram no berço da religiosidade onde se ouve sempre os sinos seculares a chamar os fiéis para as orações.
Cidade dos guias espirituais católicos, padres jesuítas que vieram para catequizar os canindés e os genipapos, índios excluídos de seus convívios pelos vendavais de sua história. Padres e irmãs salesianos que trouxeram a cultura e a civilização formal, aliando-se ao seu povo bom e hospitaleiro.
Cidade das flores e dos casarões seculares, a mostrar toda hora a história do seu povo, que em todas as ocasiões defendeu politicamente o seu torrão.
Cidade dos bravos plantadores de café, lavradores e desbravadores dos lugares mais íngremes da região serrana.
Cidade de nossos pais e avós, antepassados que fizeram parte, como personagens de sua e nossa história.
Cidade de nossos amores e de nossas lembranças eternas.

sábado, 8 de novembro de 2008

JOSÉ MACIEL ( FILHO DE BATURITÉ)



José Maciel

Mario Mendes Júnior(*)

Único filho homem, e caçula do comerciante Antônio Maciel e de dona Marcelina Bonates Maciel, esse baixinho, muito branco, olhos azuis cintilantes, tímido, introvertido, aparentemente mal humorado, dono de um campo consciente excessivamente amplo, nasceu a 17 de abril de 1896 em Baturité onde estudou as primeiras letras.

A primeira viagem a capital, em 1909, marca sua vida de intelectual: aos treze anos seu pai lhe matricula no terceiro ano primário do Instituto Borges, do professor Odorico Castelo. Em Fortaleza divide seu tempo, entre o semi-internato e a casa de sua prima Maria Maciel, filha de seu tio Manoel Felício, antigo coronel franco atirador da Campanha do Acre, seringalista, assassinado no Amazonas por questões políticas.

Somente um grande sentimentalista como José Maciel pode descrever um sentimento de um filho caçula longe da mãe e que por já ser quase homem feito não pode mostrar a fraqueza de chorar na frente dos primos, relembra, o momento o trecho da crônica de sua lavra:

“Maria morava com a mãe e o irmão, Manoel Felício Filho, no Bulevar Visconde do Rio Branco. Ali morei dois anos que alias marcaram minha primeira ausência da casa paterna, ausência povoada de lágrimas escondidas e aflitivas saudades, muito particularmente de minha mãe – o querubim daqueles inocentes dias.” (1)

José Maciel, com quinze anos voltou para Baturité, “muito compenetrado no papel de comerciante, tomando conta da loja do pai, na Rua do Comercio antiga”.(2) Daí em diante na terra natal foi figura de destaque em todos os movimentos sócio-culturais que fizeram época no Baturité dos anos 20 e 30.

A gratidão de José Maciel pelo professor Odorico Castelo Branco é conhecida pelos elogios ao mestre: “educador nato, homem de rara têmpora, culto, honesto, digno por todos os títulos”, de quem recebeu a instrução que o fez contador, professor de português e francês no Colégio das Irmãs, atividades asseguravam a boa vida que desfrutava, sem depender de ninguém, na sua cidade.

Para livrar a juventude da dependência dos salões das casas de famílias, José Maciel cunha a idéia de transferir os bailes, antes nas residências, para realizá-los Associação Comercial de Baturité, da qual foi seu eterno orador e secretário

Assim sendo, a Associação, passou a ser o palco dos grandes bailes da cidade inclusive das festas carnavalescas até então proibidas pelo manda chuva Ananias Arruda.

É de fazer chorar as saudades das festas de carnaval, em determinados momentos, os foliões, em cordão, a pular marchinhas, saiam do salão principal cimentado, para o assoalhado da sala vizinha, numa coreografia rústica em que aproveitavam o piso de madeira para tirar sons que obedeciam a cadencia da musica através do barulho dos passos.

À frente dos pensadores de seu tempo, na época em que ninguém pensava o turismo como atividade econômica, pioneiro, José Maciel, falava do potencial turístico de seu torrão.

Sem se limitar as potencialidades da Serra, defendidas em diversos artigos, José Maciel, sendo um admirador incondicional da Pedra Aguda, na sua crônica publicada no “O Jornal”, em 17/10/58, assim se referia ao rochedo:

“(...) penhasco colossal, monumento ciclópico isolado em meio à planície (...) a pureza atmosférica emprestava ao penedo um azul magnífico’’.

E acrescentava, num recado para as autoridades:

“Amanhã talvez uma estrada bem cuidada comece a levar visitantes ao pé do monólito formidável , para experimentar uma emoção daquela grandiosidade que impõem-nos à alma assustada com fascínio irresistível das coisas eternas.” (...) “E depois quem sabe? Baturité começará a ser um centro de atração turística”.

Na década de trinta José Maciel se muda para Fortaleza onde monta seu escritório de contabilidade na Rua do Rosário, sendo o primeiro contador da cidade a dominar a contabilidade como ciência.

Sendo o principal e maior conhecedor da família Maciel, além da obra inédita “Um Episódio Memorável”, sobre os parentes, tem inúmeras crônicas publicadas no seu “Minhas Idéias” e outras muitas a publicar que se fora a sua pena já teriam sido esquecidas na caligem do tempo.

Eclético, José Maciel não se deixava levar por modismo e ideologias importadas da época: fascismo, nazismo ou comunismo. Seu pensamento mantinha distância do nacionalismo, às vezes cretino, dos brocardos como “minério de ferro é nosso” e “o petróleo e nosso”. A riqueza mineral do presente, se permanecer debaixo da terra, corre o perigo de ser substituída por sucedâneos. Antes disso deve ser explorada, mesmo pelo capital de estrangeiros.

Outro assunto que o preocupava, era o enigma da segurança, maior quebra-cabeça da contemporaneidade, veja texto de uma crônica:

“De cada vez que a maré montante do crime perturba a tranqüilidade laboriosa dos que se afadigam na labuta cotidiana, cresce na alma do povo uma dúvida silenciosa quanto ao que possam ainda fazer as autoridades responsáveis pela segurança pessoal dos cidadãos, ameaçada no sertão como na capital, na rua, como dentro do próprio lar.” Ao mencionar seu pensamento sobre a pena de morte, outro mito atual, assim se pronunciava: “na verdade é doloroso que se condene um homem à morte. Mas (é aqui que surge o dilema) para onde mandará a justiça o homem frio, insensível e cruel, que martiriza um anjo inocentíssimo, uma pobre criança de apenas quatro anos de idade?”.

José Maciel assinou por muitos anos no jornal “A Verdade” uma coluna de reminiscências intituladas “O Velho Torrão”. No “O Jornal” de Fortaleza que desenvolveu em 1958 um trabalho intitulado “Tipos Populares de Baturité” onde imortalizou as figuras estranhas do seu Asa, da Boneca do Cão, do Seu Chiquinho, do Come Unha, do João Cururu, do Jorge Sinésio, do José Costa, do Manoel Elias, da Pinca Júlia.
Maciel justifica o apego pelos tipos notórios no axioma de sua larva:

“Na paisagem de uma sociedade humana, o tipo popular é como um colorido forte que anima o conjunto”.

Na década de 60 transferiu-se para o Rio de janeiro, onde, também viveu da contabilidade, mas sem nunca abandonar a atividade literária.

Homem de letras, historiador, jornalista, continuou colaborando com os jornais de fortaleza , e principalmente com semanário de nossa terra "A verdade" assinando as colunas "De longe".

Sua esposa, e prima legitima era dona Felícia Mendes Maciel, LICINHA, filha do major Pedro Mendes Machado e dona Maria Maciel Mendes Machado, portanto cunhado do Mário Mendes.

José Maciel era irmão de dona Maroca, parteira que acompanhou milhares de partos na década de 1940, mãe do Arivaldo Maciel e José Alci de Paiva.

As outras duas irmãs de José Maciel eram Dona Idália e Neném, ambas as professoras em Baturité e depois em Fortaleza.

José Maciel morreu no Rio de Janeiro em 1980, deixando os seguintes filhos:

José Ephebo Mendes Maciel
Tânia Mendes Maciel
Atila Mendes Maciel
Pedro Alan Mendes Maciel Pedro Alan Mendes Maciel, advogado, residente no Rio de Janeiro, legado de seu pai, hoje o dono do acervo documental do estudo "complicadíssimo", da família Maciel.
Antonio Wilson Mendes Maciel

(*) Bacharel em Direito e Empresário. ( De responsabilidade do autor)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

PRIMAVERA ( EM BATURITÉ)


PRIMAVERA
Gracinda Calado

A primavera já aponta o seu sinal.
As flores estão mais alegres, mais viçosas, mais perfumadas!
O céu é mais azul, as nuvens dançam no firmamento, brancas como algodão.
Nos jardins da cidade as rosas e os bugaris, as avencas, margaridas e papoulas, se abrem anunciando a chegada dessa estação!
Os rios correm mais velozes pela força do vento; as noites são mais frescas e agradáveis.
Os ipês são mais floridos, cobertos pelo amarelo e roxo de suas flores tropicais.
No alto das serras, o verde é mais brilhante e o clima mais ameno.
No coração de cada um de nós mora uma saudade, uma alegria, uma esperança.
À noite a lua vem beijar o mar com seu clarão.
As estrelas piscam como os vaga-lumes clareando a escuridão das matas.
Os caminheiros e viajantes passam nas estradas solitárias, iluminadas de dia pelos raios do sol que se fazem presentes, nos dias de primavera.
Nas grandes e pequenas árvores os pássaros fazem seus ninhos e chocam seus ovinhos enquanto o frio não chega.
De longe se ouve seus gorjeios nas manhãs de primavera.
Os peixes nadam felizes nos rios e nos lagos oferecendo a todos o alimento necessário à vida.
Tão bom que todos os dias fossem de primavera!

sábado, 20 de setembro de 2008

MEMÓRIAS DE MINHA INFÂNCIA EM BATURITÉ


MEMÓRIAS DE MINHA INFANCIA EM BATURITÉ.
Gracinda Calado

Aos seis anos morávamos próximo a Igreja de N. Senhora da Palma, Igreja matriz de Baturité, onde nasci.
Às seis horas da manhã mulheres passavam de branco para a missa na matriz depois de ouvir o badalar do sino chamando os fiéis.
Minha mãe achava-se gravemente enferma, então pensei que indo até aquela igreja Jesus iria fazer minha mãe ficar curada.
Não disse nada a ninguém e fugi de casa sorrateiramente para realizar o meu plano.
Ao chegar na Igreja pessoas olhavam na minha direção e cochichavam como se estivessem falando de mim. Aproximou-se uma senhora, amiga de minha mãe que rezava todos os dias na Igreja e perguntou-me: - menina você já fez a primeira comunhão ? Imediatamente respondi que sim. Todos iam em procissão receber a hóstia sagrada.
De repente a senhora que havia falado comigo, colocou a ponta de seu véu em minha cabeça e me colocou na fila da comunhão. Não sabia eu, o que fazer com aquela hóstia.
Saí às pressas e fui para o patamar da Igreja e cuspi a hóstia no chão. De repente voltei para a igreja como se nada tivesse acontecido. Uma senhora chamada Graziela que era catequista na época notou a minha pressa em sair da igreja, foi atrás de mim.
Foi tão grande a decepção da catequista que gritou dentro da Igreja:- Sr padre por favor tem uma hóstia na calçada, foi aquela criança que cuspiu. De repente formou-se um grande alvoroço na porta da igreja. O padre chegou, apanhou a hóstia e avisou para ninguém pisar no local, pois ali estava o corpo de Jesus. Olhei ao redor de todos e não vi o corpo de Jesus e saí de mansinho, sem saber o que se passava.
Vendo todo aquele movimento corri para casa e cheguei muito desconfiada.
Meu pai perguntou onde eu estava e o que aconteceu. Contei tudo o que havia se passado na igreja. Ele perguntou por que eu fizera aquilo? Respondi que era para minha mãe ficar curada. De repente minha mãe falou como se quisesse saber o que aconteceu.Meu pai entusiasmado disse : - o milagre já aconteceu sua mãe falou!

CASTELO DOS MEUS SONHOS




MONÓLOGO
CASTELO DOS MEUS SONHOS

Gracinda Calado

“Era um castelo encantado.”

Estou aqui pra ti ver, falar contigo,
Sentir o teu cheiro forte de passado,
Desarrumar teus baús e no fundo encontrar meus tesouros.
Não sei por que estou a ti falar em tom severo, se depois de tantos anos,
De separação eu te deixei?
A minha alma até hoje sente a tua falta;
Teus segredos, teus carinhos, nunca me esqueceram.
Aqui nesse castelo os dias já foram de alegria.
Talvez, não sei, de tristezas também.
Do outro lado da rua ficava a casa do meu bem.
Todas às tardes ficava na janela para me ver passar.
Às vezes mandava bilhetinhos pela moça da varanda ao lado.
Morria de vontade de ir até lá falar-lhe qualquer coisa!
Tu és a testemunha fiel de que fui fiel ao seu apelo.
De repente eu estava apaixonada e ele também.
Lembro-me do meu primeiro poema, foi pra ele, e ele ficou todo prosa!
Aí veio a resposta, não gostei! Sabes por quê? Estava muito apaixonado!
Não acreditei.
Tuas paredes não mudaram, são fortes e seguras, nem o vento derrubou!
Na minha vida tudo mudou, estou só, sem amor, sem ninguém.


Não esqueça de guardar os meus segredos no castelo do meu bem

terça-feira, 16 de setembro de 2008

AS RUAS DA MINHA CIDADE.


AS RUAS DA MINHA CIDADE.
Gracinda Calado

As ruas da minha cidade não têm donos, mas têm nomes.
As ruas da minha cidade são alegres, são felizes.
As ruas da minha cidade têm cheiro, tem perfumes,
As ruas da minha cidade têm amores e ciúmes.

Nas ruas da minha cidade muitos vivem seus amores,
Nas ruas da minha cidade muitos cantam suas dores.
Nas ruas da minha cidade passam ricos e passam pobres,
Nas ruas da minha cidade passam poetas e passam nobres.

Nas ruas da minha cidade deixei meu coração de criança,
Nas ruas da minha cidade ficou guardada a esperança.
Nas ruas da minha cidade o tempo passou tão depressa,
Nas ruas da minha cidade a saudade chegou às pressas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

MINHA TERRA - BATURITÉ


MINHA TERRA - BATURITÉ
Gracinda Calado

Minha terra abençoada,
Em dias de novena,
Ou em dias de procissão,
Todos pagam promessas,
Na minha santa da Palma.
Depois a reza, a oração,
Pedir a Deus seu perdão.
Minha terra adorada,
Quantas saudades de lá,
Dos serões nas calçadas,
Das noites de lua cheia,
Das serenatas dolentes,
Um dia hei de voltar.

Minha terra, que saudades...
Das tuas lindas lapinhas,
Dos folguedos no são João,
Das fogueiras e dos balões,
Das quermesses na matriz,
Da festa da padroeira,
Das rezas a noite inteira,
Dos terços e das novenas,
Nas casas de devoção.
Minha terra alvissareira
Vou cantar-te horas inteira.

Minha terra das flores,
Dos chorões e dos jasmins,
Das palmeiras e dos jardins,
Das roseiras e dos bosques,
Das flores e das canções,
Dos dias de primaveras,
Dos invernos e dos verões,
Dos outonos tão sutis,
Das noites e dos coretos,
Dos passeios na avenida,
Dos teus poetas amadores,
Dos teus fiéis cantadores.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

DORALICE


DORALICE
Gracinda Calado

Uma jóia de mulher. Inteligente, sábia e tem muito de filósofa.
Sua idade, não diz a ninguém.
Foi secretária de meu Pai quando morava em Baturité no serviço militar, desde os anos 40. Gosta muito de ler lindos romances. A ultima vez que estive com ela disse-me que catalogou 1000 romances, e o mais curioso é que ela sabe e se lembra de quase todos com os títulos e os autores.
Doralice é uma figura fantástica! Ela merece uma homenagem pela pessoa boa, educada e inteligente, razão porque recebeu do comando do Exército no Ceará uma comenda e diploma pelos serviços prestados à comunidade de Baturité auxiliando no serviço militar durante 20 anos.

Meu pai era chefe do serviço militar do interior, com sede em Baturité, e ela funcionária da prefeitura, escriturária. Meu pai pediu ao prefeito da época, lá pelos anos 47/48, uma funcionária, com ordem do Comandante do Exercito, para ajudar no alistamento militar do município, que os trabalhos cada vez se acumulavam por causa dos acontecimentos da 2ª guerra. O escritório da regional militar funcionava no prédio da prefeitura, ao lado do gabinete do prefeito. Para satisfação de todos, a escolhida foi Doralice, pelo desempenho de suas funções naquela prefeitura. A secretária “Dora”, como era carinhosamente chamada foi professora, alfabetizadora da qual se orgulhava muito.
A caligrafia de “Dora” era perfeita, linda, parecia um desenho.
Seus relatórios eram impecáveis, sem erros, sem rasuras.
Doralice é uma figura rara na cidade de Baturité onde nasceu e vive até hoje, sozinha, depois de perder três irmãs mais velhas.
A minha querida Dora deixo nesse artigo a minha homenagem e o meu abraço sincero de amizade, e muito amor. Meus pais já não mais existem e se fosse o contrário tenho a certeza que eles a abraçariam com o mesmo ardor que eu a abraço agora. Beijos minha querida Dora.

domingo, 7 de setembro de 2008

UMA VIAGEM DE TREM


UMA VIAGEM DE TREM

Por que corre tanto Maria-fumaça?
Era o nome da grande máquina do trem que nos levava de Baturité a Fortaleza.

O povo da cidade se familiarizou com ela e lhe apelidou de Laura 400, o número da máquina. Toda população só queria andar na Laura 400.

Quando o trem parava era uma festa: frutas, bananas secas, cajaranas, uvas pretas de boa qualidade, bolos, tapiocas, maria-maluca, tijolim, pupunhas da serra, alfenins, batidas de rapadura, enfim uma infinidade de comidas além do mel e do caldo de cana. Quando o trem chegava às 9:00, saíamos matando aulas do colégio Auxiliadora, para esperar o trem que passava para o Crato.

Que tempo bom aquele!
Aos domingos saía um trem especial de Baturité à Fortaleza.
Lá íamos nós, saboreando aquele ar puro e perfumado de flores e em cada estação o trem parava para abastecer.O contato com a natureza enchia nossos pulmões de puro oxigênio, enquanto uma leve brisa alisava nossos cabelos. Não tínhamos medo de nada, não tinha violência, nem ladrões roubando a mão armada.
Lá vai a Maria fumaça... Minha doce e querida Laura 400, descendo a ladeira do Itapay, fazendo curvas perigosas nas encostas da serra do mesmo nome!
Durante a viagem, lá vem o condutor "tricotando” os bilhetes de passagens, muitas vezes perdíamos no caminho de tão empolgados que estávamos com a viagem.
O nosso pensamento viajava nas ondas da música da máquina à vapor: café-com-pão, café-com- pão, café com pão, e íamos nós com nosso coração a bater aceleradamente rumo aos nossos sonhos, rumo às nossas fantasias, deixando para trás as saudades daquele dia!

terça-feira, 2 de setembro de 2008


CADEIRAS NA CALÇADA

Gracinda Calado

Todas as noites soprava o vento do Aracati. O calor era grande e na calçada todos se reuniam para tomar uma fresca na hora que o vento passava.
Ali , na calçada pessoas passavam, algumas paravam para trocar um dedo de prosa.
Não havia quem não se aproveitasse daquela situação singular, com suas cadeiras de balanço na mesma hora e local na calçada.
Vizinhos se reuniam para aproveitar o frescor nas largas calçadas da cidade.
Vendedores de picolé, de coxão de noiva, tijolim, cocada, puxa-puxa etc,
.iam e vinham vendendo seus produtos e guloseimas aos freqüentadores das calçadas.
Os assuntos que saíam nas conversas, dependiam dos acontecimentos daquele dia: quem fugiu com quem, quem casou-se com quem, fulano se separou, a filha do sr.F está no caritó, o menino do casal R, nasceu, e por ai se desenrolava até meia-noite o “converser.” Às vezes as gargalhadas ecoavam no silencio da quase madrugada, quando a conversa era engraçada.
Quem morreu, quem nasceu, todos os freqüentadores das calçadas sabiam logo, e ao,amanhecer as noticias saíam quentinhas como o pão da padaria mais próxima.
Em meia hora toda a cidade já sabia o que acontecera durante à noite.
Mesmo assim era muito divertida a vida naquela cidade!
Hoje não se pode mais sentar nas calçadas...
Todos se fecham em seus portões e obrigatoriamente vão assistir televisão.
Até quando viveremos assim, prisioneiros, dentro de nossas próprias casas!

FLORADAS NA SERRA
(Gracinda Calado)


Quando chega o verão, na serra tudo fica diferente.Nossa alma vai em busca das flores pelo perfume que exalam e embriagam. Sonhamos com primaveras perdidas nas montanhas e a sensação de frio nos leva a pensar em solidão.!
Quando amanhece na serra, a serração cobre tudo de cinza depois se esvai cobrindo o cafezal vermelho. Nosso corpo treme ao toque da água cristalina do riacho, que teima em correr devagar, preguiçosamente em busca do rio. O frio é intenso e depois de alguns goles de café, saímos a passear estrada afora vendo a paisagem que se muda a cada hora.
Lá do alto da serra a água cai, acompanhando as grotas íngremes que se estendem nas encostas dos montes seguindo o curso dos abismos que se formam nas estações invernosas.
Avistamos de longe, no seu cume, um tapete de cores formado pelos ipês floridos, multicores, que todas as manhãs encobrem o chão de flores, enquanto na copa das árvores pássaros cantadores cantam demonstrando seus gorjeios favoritos.
A serra cobre-se toda de azuis e amarelos, vermelhos e brancos.
Anoitece e ao longe desconfiada surge a lua ciumenta, naquela noite fria . Nos ninhos alguns casais de “ pintados” sacodem as penas para aquecer seus filhotes..
Vem chegando o sol, e com ele a esperança de esquentar a alma que se prepara para o encontro do amor. Casais de enamorados passeiam naquela tarde fria, um no aconchego do outro, descobrem lindos versos de amor e lindas canções para elevar ainda mais a alma apaixonada! O amor floresce como floresce a natureza do lugar. Surgem as floradas e como elas algumas historias de amor!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008


A POLITACA ANTIGA DE BATURITÉ (IV)
Mario Mendes Junior
Em janeiro de 1952, a pouco mais de um ano da eleição que fez dele o vereador mais votado, com a morte do irmão Pedro Wilson, muito abalado, Mario Mendes deixou a política, daí então, quando o vereador era procurado, somente o comerciante era encontrado.
Para as eleições de 1954, o Dr. Álcimo Cavalcante, impõe o nome de Oziel Rabelo para aspirar a prefeitura, embora a preferência geral do partido recaísse no nome de Francisco Mesquita Pinheiro, comerciante que além de sério, tinha recursos suficientes para enfrentar a campanha. Naquele pleito, sem se candidatar a nada, Mario Mendes se compôs com Oziel, e trabalhou a eleição de seu primo Dr. Lauro Maciel Severiano, para deputado estadual, Colombo de Souza para federal, e, Armando Falcão para governador.
Armando também, candidato a Deputado Federal, perdeu a eleição para o governo, se elegendo, porém, para a Câmara dos Deputados. A fama de que seu opositor Paulo Sarasate ganhou a eleição somente na contagem dos votos é tão notória, quanto à história de que Armando trocou seu mandato na Câmara por um cartório no Rio de Janeiro.
Fato que ficou gravado nos anais da política baturiteense, por ocasião dessa dita campanha de 1954, em Baturité, existia um ônibus, que mesmo muito velho, muito servia à população, levando e trazendo os passageiros do trem em duas viagens diárias. Para não gastar bateria o carro já ficava estacionado estrategicamente na descida da Praça Santa Luzia em direção a estação, posição exata para, sem ser emburrado, acionar o motor sem gastar bateria.
Parodiando o slogan da campanha ARMANDO É CONTRA O ROUBO E A CORRUPÇÃO, o ônibus, um dia, amanheceu pichado com a frase: ARMANDO É CONTRA O LIXO. Como o seu proprietário o Senhor Orlando era homem recatado, não metido em política, a baixeza do ato, tinha o endereço certo do seu irmão, Raimundo Viana, grande industrial e comerciante da cidade, contrário à candidatura de Armando.
Desse pleito a vitória de Rosuel Dutra Ramos, leia-se UDN sobre Oziel Rabelo, leia-se PSP, foi muito comemorada.
Enquanto os foguetórios comemoravam a vitória de seus eleitos na frente do Sobrado dos Maciéis, então residência de Mario Mendes, ele preparava a família para se mudar para Fortaleza.
Triste, com a mudança, o comerciante pensava consigo mesmo:
- Deixe-se que a arraia-miúda continue a votar nos manda chuvas de sempre, eles não conhecem o bando de comprometidos que elegem: deputados, senadores e governadores, cuja grande maioria come no prato do Presidente, um marechal de pijama, gente daqueles mesmos militares, que, desde o Império, se prevalecem da espada para se intrometer no poder civil.

* Bacharel em Direito e Empresário.

A POLITICA ANTIGA DE BATURITÉ (IV)

A POLITICA ANTIGA DE BATURITÉ (III)


A POLÍTICA ANTIGA DE BATURITÉ (III)
Mario Mendes Junior (*)
Nas eleições de 1950, para reverter a abrasada candidatura do Dr. Álcimo Cavalcante Aguiar, os Ramos e Arrudas, tradicionais adversários, evitando a procela dos partidos, UDN e PSD, sem nenhuma adversão, acerbamente, lançam o nome de Hildo Furtado, comerciante fora da política, mas capaz de parar o atrevimento dos “principiantes audaciosos” que ameaçavam abalar a preponderância dos líderes contumazes.
A maior afinidade de Hildo Furtado com Ananias Arruada não desagradava nem aos próceres João Ramos, Raimundo Viana, Francisco Saraiva Xavier, postulante a um assento na Assembléia Legislativa, e, muito principalmente ao povo em geral.
Destaque nesse pleito o Dr. Saraiva, era um médico elegante, de estatura acima da média e pele cor de oliva que lhe dava um ar de sultão. Montara um consultório na Rua 15 de Novembro onde, operando sem parar, adquiriu reputação de bom cirurgião, não só em Baturité, mas no maciço inteiro. Pacientes chegavam-lhes as dezenas.
Dr. Saraiva casou-se com Leni, espécie de monumento da cidade, muito desejada e admirada não só pelo seu porte de diva do cinema americano, mas também, por ser uma Dutra-Ramos, família que, por si só, possuía a força política para levar o cabo seu projeto de ser deputado.
Chegado o dia 3 de outubro, como o Dr. Álcimo era solteiro, hospede do Hotel Canuto, o povo vindo dos distritos, dos povoados e das zonas rurais, para votar, abarrotaram a casa do Mario Mendes, que na qualidade de presidente do PSP, lhes preparara um lauto banquete. Enquanto comia o eleitorado recebia os envelopes para, nas urnas, sufragar as chapas dos seus respectivos candidatos. Era gente na sala, na cozinha, no quintal e até nos quartos. Enfim foi esse povo dos arrabaldes quem fez de Mario Mendes, o vereador mais votado do pleito, já o Dr. Álcimo, este acabou derrotado, sem embargo da excelência do opositor, pelo troca-troca de chapas na boca de urna.
Terminada a apuração a diferença pró Hildo Furtado foi de mais de 1800 votos, mas, antes de assumir a prefeitura, lamentavelmente, o bom homem, aquele que seria um grande prefeito, morre em desastre de carro.
Quanto ao Dr. Saraiva, mestre da troca de chapas, apesar de natural do Crato, elegeu-se deputado pelo colégio eleitoral do sogro. Impulsivo e impetuoso, na política, ao invés de se impor pelo seu talento, ele preferiu se distinguir pela valentia.
A morte prematura de Hildo provocou nova eleição, ganhou Miguel Edgy, sobrinho de Ananias Arruda, que venceu a José Ricardo.

(*) Bacharel em Direito e Empresário.
DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DO AUTOR.

domingo, 31 de agosto de 2008

A POLITICA ANTIGA DE BATURITÉ


LANCES DA POLÍTICA ANTIGA DE BATURITÉ (II)

Mario Mendes Junior

O Dr. Álcimo, chegado a Baturité em 1945, mostrou-se um médico muito generoso e humano, sendo o único clinico que havia na cidade para atender a população urbana e do campo. Toda quinta feira dava atendimento gratuito no primitivo Ambulatório Santo Antonio, ao lado da Irmã Clemência. (Bessa, Murilo Alves. Irmã Clemência. SED. Fortaleza. 1991)
Escolhido para pleitear a prefeitura pelo PSP, além do apoio total do diretório, a candidatura do médico cresce com adesões importantes de figuras como as dos comerciantes José Mesquita, Alfredo Xavier, José Olavo Silveira, e dos jovens de então, como Clélio Silveira Barros, Carlos Simões e Ademar Moraes Barros que chegavam para engrossar e se integrar na luta presunçosa.
Na sede do comitê, na Rua 15 de novembro, esposas, filhas, amigas e afinal toda família pessepista, ensinavam os eleitores analfabetos a escrever o nome, para sem despesas, sem trabalho, e, sem nada, adquirir “os direitos de cidadão”.

- Vocês tão querendo alistar nóis pra quem? Perguntavam os novos eleitores diante de “tanta vantagem”.

- Para o Dr. Álcimo, mas uma vez alistado, pode votar em quem quiser. Respondiam as voluntárias

O negócio era assim, só não trabalhava para o Dr. Álcimo, os funcionários públicos municipais e estaduais, isso, com medo de perder o emprego.
No auge da campanha, trazido pelas asas de um anjo, para dar moral à campanha, acontecimento que nunca saiu da memória do povo à loja do presidente do partido, Mario Mendes, chega de surpresa o sanfoneiro Luiz Gonzaga. O Rei do Baião, “trazia no seu matulão”, Humberto Teixeira, o parceiro de “Asa Branca”, a postulante de uma vaga na Câmara Federal pelo PSP.
Imagine-se o brilho do comício improvisado, em frente à loja Nova Aurora, num dia de feira, com o Gonzagão, agitando a matutada nos intervalos de discursos inflamados.
Ao resfôlego da sanfona, brincando com os transeuntes, sai a pilhéria dirigida a um serrano que passava montado numa burra:

- “Te apeia Mané Besta! Pra quando tu chegá em casa... Dizer... Eta muié... Lavei a égua... Pois num é que vi o Gonzaga cantá!”.

O entusiasmo dos emergentes, nessa altura, não escondia o amadorismo político de candidatos à vereança como o Zé Mesquita, que, julgando-se já eleito, passou a enjeitar novas adesões. Aos que lhe pediam chapa, mandava-os, até, votar nos seus próprios competidores.
Bisonha, a nova força não imaginavam o que lhes preparava os profissionais do poder!

(*) Mario Mendes Junior é Bacharel em Direito e Empresário.

( DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR)

sábado, 30 de agosto de 2008

A POLÍTICA ANTIGA DE BATURITÉ ( 1ª parte )


A POLÍTICA ANTIGA DE BATURITÉ (I)
Mario Mendes Junior
No governo de Faustino de Albuquerque (1947-1951) a política do Ceará pega fogo quando a Assembléia, através de voto indireto, elege o inimigo e adversário de véspera, Menezes Pimentel, para vice do governador, e, este, por desafronta, usou a máquina do governo para fazer prefeitos udenistas. Nesse ambiente de fornalha Faustino, ao satisfazer seu desejo, esquenta a rivalidade dos caciques municipais, e, por conseqüência, abriu caminho para as forças políticas emergentes.
Quando os lojistas Mario Mendes e Mesquita Pinheiro, o relojoeiro José Farias, o industrial e comerciante José Ricardo da Silveira, o farmacêutico Oziel Rabelo e o contador José Francelino, retornaram de Paulo Afonso, onde, em excursão, foram conhecer a cachoeira, encontraram Baturité respirando política. O hoteleiro Canuto Ferro de Alencar, Presidente da Câmara, substituía Raimundo Viana, o prefeito efetivo, que se encontrava no exterior.
Rompia o segundo trimestre do ano eleitoral de 1950, e o aguçado espírito político do Zé Ricardo induz o grupo a se compor numa terceira força, capaz de derrotar os tradicionais donos dos colégios eleitorais, que, conflitantes, então, se denegriam em polêmicas e trocas de desaforos, pendengas, até, ficadas na memória mesma do folclore político do lugar:
- João Ramos - dizia o coronel Ananias Arruda - é tão miserável que não pinta, nem, sua casa!
A isso, em cima da bucha, o coronel João Ramos, respondia:
- É melhor ter a casa suja e a consciência limpa, do que a casa limpa e a consciência suja!
Atividade que mais profundamente atinge a vida do interior, a política roceira, não permite, a ninguém, se ausentar dela enquanto se aproximam as eleições. No calor da emulação, ao invés de se compor com um coronel, parido de gerações acostumadas a triturar a paciência do povo com a mesmice, e, do outro lado, mais um coronel que a tudo examinava sob o ponto de vista religioso, os chegado da caravana, penderam para o contrário e corroboraram a idéia do Zé Ricardo.
Acudido pelos acenos do PSP, Partido Social Progressista, de Adhemar de Barros e de Olavo Oliveira, a nova força se organiza em diretório, a saber: Mario Mendes, Presidente; Francisco Mesquita Pinheiro, Vice-Presidente; João Paulino Pinheiro, Secretário; Raimundo Castelo Silveira, Tesoureiro; Edivo Campos, José Farias dos Santos, Manoel Castelo Branco, Eliziário Gomes e Emídio Castelo da Silveira, Diretores.
Altivo até a insolência, orgulhoso até o egotismo, sem ter cargo no diretório, Oziel Rabelo, impõe, ao diretório do PSP, o nome do Dr. Álcimo Cavalcante Aguiar, como postulante à prefeitura. O nome de Zé Ricardo ficou para outra vez!

Mario Mendes Jr. Bacharel em Direito e Empresário.


Esta página é de inteira responsabilidade do autor.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008



A CASA VELHA DA PONTE

GRACINDA CALADO


Aos domingos, debaixo das tuas mangueiras juntávamos em roda a brincar, cantar e depois correr até ao rio.

Depois em pulos caíamos no leito do rio a mergulhar e nadar. Com a agilidade da juventude, subíamos na contra-mão para pegar os cajus que teimavam em cair em nosso rosto. Que brincadeira aquela! Maravilhosa!

Nas férias enchíamos a casa de amigos e de primas e desfrutávamos todos os prazeres das brincadeiras de criança: pega-pega, dança de roda, o anel, esconde-esconde, jogo de pedras, jogos de bola, teatrinho e sem lá o que, a gente inventava, como comidinhas feitas em panelinhas de barro desfalcando os pratos do almoço preparado pela Maria.

Casa velha da ponte, das noites de lua cheia, dos coaxás dos sapos, dos ruídos dos grilos, das borboletas nas trepadeiras e nas acácias...

Casa velha do cheiro de doce de leite que a minha mãe fazia, dos bolos pés-de-moleques das comidas gostosas aos domingos, do cheiro de rapadura, das cocadas e dos beijus, das tapiocas e das frutas doces colhidas pelo meu pai.


Casa velha dos dias de chuva, dos trovões, das enxurradas, das enchentes do rio, das correntezas,do barulho das pedras rolando de rio abaixo...

Casa velha dos jardins de minha mãe, das roseiras perfumadas, dos jasmins, das margaridas, das adálias e das palmeiras...

Nossa casa era um abrigo de amor e de ternura.Hoje não existe mais, só na saudade de seus filhos queridos que não a esquecem jamais.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

COISAS DA MINHA TERRA / AS FEIRAS LIVRES)

COISAS DA MINHA TERRA
( FEIRAS LIVRES)

Gracinda Calado)

As feiras de Baturité, minha cidade natal, são realizadas aos sábados.
Desde pequena conheço essas feiras que abastecem todo povo da região do Maciço.
O movimento começa na madrugada quando os comboios se arrastam descendo a serra levando frutas, verduras, galinhas, produtos dos mais variados tipos para vender na feira.
O estacionamento fica na praça Santa Luzia, de um lado para animais do outro para caminhões e caminhonetes. Nas suas bagagens os lavradores trazem os produtos de suas lavouras como, verduras e frutas fresquinhas que são cultivadas sem agrotóxicos.
Os caminhões trazem as cargas mais pesadas como rapaduras, jacas, melancias, objetos de madeira e barro, assim como as frutas em milheiros: bananas, laranjas etc. Até flores são negociadas na feira. Os produtores locais e das proximidades da cidade levam suas confecções caseiras como roupas, chinelos, bonés, sapatos, enfeites de cerâmica etc.
Em Baturité existe desde muito tempo, já passando de pais para filhos a industria de cestos de vime e confecção de utensílios de barro, todos são vendidos nas feiras do sábado.
Esse costume dá emprego a muita gente que está desocupada; no mercado central da cidade as mulheres vendem comidas e salgadinhos, sanduíches, pães, doces e bolos.
Quem vai a Baturité não deixa de conhecer suas feiras, pois além de pechinchar um preço bom tem produtos de qualidades.
Nas feiras encontramos ainda pássaros em gaiolas ( não é permitido) peixes em aquários, aves para o abate, como galinhas, perus, patos, capotes, e até avestruz.
Em dia de feira a cidade fica muito movimentada e a praça parece dia de festa.
Em todos os cantos se ouve os gritos dos vendedores chamando a atenção dos fregueses.
Quando eu morava em Baturité gostava muito dessas feiras. Às vezes me pego lembrando das panelas de barro, potes, alguidares, da Julieta Serafim; dos milhos e feijoões verdes nas semanas santas, das pupunhas na época de férias ( que tem na serra, de origem do Amazonas). Não posso esquecer das uvas em cestinhas de vime e dos pés de moleques gostosos na época de São João.
Na minha terra tem dessas coisas! A gente fica com saudades das coisas mais simples que por muito tempo fizeram parte do nosso dia a dia.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008




COISAS DA MINHA TERRA ( Passeio à estação)
Gracinda Calado

Lá pelos anos 50 e 60, na minha terra os jovens estudantes tinham um costume de passear na estação ferroviária. Às 9:00, chegava um trem vindo de Fortaleza com destino ao Crato.
A estação ficava lotada de pessoas que vinham assistir a passagem desse trem onde nele se encontravam personalidades importantes da política, da educação, do rádio ou do teatro cearense, como também da igreja. O trem era o único meio de transporte que ligava a capital ao sertão, o norte ao sul do estado.
Naquele momento vinham os estudantes dos colégios salesianos Domingos Sávio e N. Senhora Auxiliadora. Esses estabelecimentos de ensino ficavam perto da estação e muitos alunos no horário do recreio, matavam aulas e iam passear e flertar com as jovens lá na praça do putiú.
Na hora que o trem chegava era uma grande animação: vendedores de frutas, laranjas, uvas, tangerinas, mangas, cajus, siriguelas,como também os doces e bananas passas, que chamávamos de bananas secas.
O trem demorava na estação para abastecer a máquina que era a vapor. Geralmente era a de nº 400 que logo foi apelidada de Laura 400. Muita gente ficava triste, chorava, quando o trem partia e só deixava saudades. Aquele momento na estação ferroviária era mágico! Pessoas partiam, outras deixavam partir seus amores, outras encontravam o par ideal, muitas encontravam até casamento! Na hora da partida era muito triste. O trem saía muito devagar e as pessoas acenando com seus lenços brancos um adeus ou até breve. Tudo depois voltava ao normal. Os estudantes subiam a ladeira do “salesiano,” rumo à cidade em festa e muita brincadeira. Os moradores da rua Dom Bosco já conheciam as brincadeiras, próprias de adolescentes cheios de energia e muita saúde. Cantavam, gritavam, falavam alto e gargalhavam lembrando-se de algo que acontecera na estação. Que tempo bom aquele! Fui testemunha dessas horas maravilhosas em plena semana de trabalho e estudos.
Nossos pais não gostavam dessa atividade dos jovens. Quem podia barrar uma brincadeira tão sadia, em um lugar que não tinha o que fazer para ocupar o tempo de lazer?
O melhor de tudo era que todos eram amigos, como irmãos e a brincadeira tornava-se uma diversão.
Que tempos bons, velhos e belos, os tempos da nossa juventude e da nossa felicidade!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

CAMINHANDO NOS SONHOS


CAMINHANDO COM OS SONHOS

Gracinda Calado

Na vida todos nós temos momentos de altos e baixos em nossas relações.
Muitas vezes nos entregamos inteiramente a uma causa boa ou produtiva.
Viajamos nos sonhos quando o amor acontece.
Somos surpreendidas pelas decepções, os medos, as traições, os desencontros.
Sonhamos e nos sonhos depositamos nossos sentimentos de maneira singela, pura, confiável.
Esses sonhos nos dão esperanças de viver, porque neles fazemos a nossa história.
Nossa caminhada no planeta é uma luta constante. Caminhamos com pessoas sempre ao nosso lado, verdadeiros anjos ou demônios.
Muitas vezes erramos, outras acertamos, assim vamos caminhando nos sonhos.
Eles nos dão forças para enfrentar a caminhada do dia a dia.
Quando sonhamos viajamos nas asas do vento, subimos até aos céus, cantamos pra lua, tecemos fios de prata nas estrelas. Viajamos nos pensamentos.
Através dos sonhos, somos deuses e coroamos reis e rainhas em nossos castelos.
Caminhando com os sonhos, damos asas as nossas inspirações, as nossas ilusões e nossas paixões.
O nosso mundo é fantástico, a nossa alma é transparente e translúcida.
O nosso corpo é leve e nossos passos mais sutis.
Voamos como os anjos e fazemos festas para os querubins.
Falamos com Deus e nos sentimos parte da sua criação.
Não sofremos nem sentimos dores na mágica do sonhar!

domingo, 24 de agosto de 2008

CIRCOS


COISAS DA MINHA TERRA
( Circos )
Gracinda Calado

Sempre nas férias de fim de ano, como era de costume, chegava em Baturité grandes e pequenos circos. Eram armados na praça da “ Boa Vista”, um bairro próximo ao centro da cidade. O caminhão chegava com todos aqueles apetrechos e começavam a armar o circo.
À tardinha o palhaço saía pelas ruas gritando “ o circo chegou! O palhaço o que é? E ladrão de mulher”. Todos atrás do palhaço gritavam, e quem gritasse mais alto ganharia uma estrada para o espetáculo. A molecada se divertia bastante com aquele movimento pelas ruas da cidade. As arquibancadas ficavam lotadas todas as noites.
Algumas garotas namoravam os “artistas” do circo e muitas vezes no final da temporada fugiam com eles para bem longe...
Os pais ficavam furiosos e mantinham a distancia com os tais “artistas.”
Muitas garotas ficavam encantadas com a performance das mulheres com aquelas roupas minúsculas, quase nuas, fazendo estripulias e malabarismos.
Geralmente, primeiro o palhaço, cara pintada, numero bem ensaiado, conquistando corações.
Depois o malabarista com tochas de fogo, bolas, pratos e tudo que se possa fazer com perfeição para agradar a platéia.
Os trapezistas se garantiam no trapézio ou na troca dos trapézios, entre dois ou três pessoas. A hora mais interessante era quando se apresentavam os palhaços, contando piadas, dando cambalhotas, fazendo mil piruetas no picadeiro.
Depois as bailarinas, apresentavam números que deixavam os homens entusiasmados e começavam a gritar...
Por ultimo o circo teatro. Uma história era contada bem dramática, mas com a participação do palhaço para atrapalhar o enredo triste.
O povo gostava dos circos na Boa Vista, exigiam respeito devido ser em frente às casas familiares. O povo gostava e até ajudava na sua estada, hospedava os artistas, o dono do circo etc. Coisas de antigamente numa cidade do interior onde as pessoas mostravam sua hospitalidade e não acontecia nada.
Hoje não se pode dar créditos aos aventureiros da arte, pois nunca se sabe quem é.
O circo era uma animação grandiosa na cidade e durante o período de férias não perdíamos uma sessão. Até hoje gosto muito do circo! Quem nunca foi ao circo, pelo menos uma vez?
Coisas da minha terra.


O CAFÉ CENTRAL


No sudeste da Travessa Mattos, em frente ao Mercado, esquina com a Rua Sete Setembro, ponto de convergência da cidade de Baturité, o Café Central, exalava, pelos quatro cantos do comercio a fragrância da rubiácea passada na hora.
Nos dias de feira, o aroma se misturava ao odor das baforadas dos cigarros ordinários dos matutos que, vindos das zonas rurais; dos povoados, das vilas das cidades satélites, efervesciam o comércio com os produtos que traziam para vender no meio da rua.
O vozeirão dos fregueses, os pigarros, os escarros, as batidas da colherinha na xícara para apressar a garçonete, nada, superava os gritos dos donos, seu Fransquim e dona Raimundinha a cobrar eficiência dos empregados.
As mezinhas de ferro fundido espalhadas no salão, com quatro cadeiras em volta, tinham, em cada uma, em cima do tampo de mármore, um açucareiro de vidro com tampa de metal. Estas quando viradas para baixo, derramavam o açúcar grosseiro que adoçava a especialidade da casa: café recém coado, puro, em xícaras pequenas, ou, com leite, em xícaras médias, acompanhado do tradicional pão passado com nata, ou, da fatia de bolo do tipo Luiz Felipe ou Souza Leão, assado na forma que delimitada o corte dos nacos.
Pioneiro o Café Central, uma vez, ensaiou, até, mudar de nome para Sorveteria Rainha, isso se deu, quando começou a fabricar o picolé Rei, produto vendido além do local, nas feiras, nos colégios e noutros pontos estratégicos, por vendedores avulsos que ofereciam a mercadoria gritando o conhecido jargão:

- Doce gelado! Abacaxi, maracujá, oi doce!

A famosa esquina teve seu momento de terror na Segunda Guerra Mundial. Nessa ocasião, ali, funcionava uma filial das Casas Pernambucanas, pertencente ao grupo Lundgren, de origem germânica. Assim, sob a gerência de Chico Campos, a loja sofreu o mesmo quebra-quebra que movimentou a nação quando da Declaração de Guerra, pelo Brasil, ao eixo Roma-Berlim-Tóquio.
Depois do saque das Casas Pernambucanas o ponto comercial sediou uma loja de João Paulino, irmão de Francisco Mesquita Pinheiro, o então dono do prédio, e, também, proprietário da “A Vencedora”, uma loja muito sortida estabelecida na principal esquina do mercado público que explorava o mesmo ramo do irmão - tecidos, chapéus e miudezas.
O Café Central teve seu dia de maior gloria quando o governador Raul Barbosa prestigiou o estabelecimento com sua presença para, lá, tomar uísque com seus correligionários, quando esteve em Baturité para inaugurar a Barragem Tijuquinha na década de 1950.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

OS ENGENHOS


COISAS DA MINHA TERRA
( Os engenhos)
Gracinda Calado

Minha cidade natal, Baturité fica ao pé da serra do mesmo nome de onde vem uma grande contribuição econômica para nosso estado-Ceará. As maiores produções são de bananas, cana de açúcar e café.
Há dez anos atrás foi a maior produtora de café do nordeste brasileiro.
Com a produção de cana, fabricam-se a rapadura, o melaço, alfenim, e a cachaça.
Nos períodos de safra alguns engenhos de cana trabalham dia e noite para dar conta da produção desses produtos.
Quando eu era garota passava minhas férias na serra em tempos de colheita de café e de moagem da cana. Levava meu tempo olhando o trabalho pesado dos operários nos engenhos até sair o produto que era o mais gostoso: o caldo de cana saboreado no próprio engenho ou em cima da bagaceira da cana que era jogada ao lado.
O mais curioso daquela época era ver as juntas de bois puxando a moenda para espremer a cana e jogar o caldo no caldeirão, para fazer o mel. Do mel, a rapadura deliciosa de coco ou com gengibre, de castanha ou natural.A sobra do mel fazia-se a batida com temperos de cravo, erva doce e gengibre. Uma especialidade da boa cana caiana.
Em outras épocas de férias assistia a colheita do café que era feita em grandes cestos de cipós, amarrados à cintura, para se usar as duas mãos na colheita dos grãos nos galhos mais difíceis. Os grãos eram vermelhos como pitangas e perfumados como morangos. Depois eram trazidos aos terreiros que chamavam de “ faxinas” para serem secados ao sol. Aqueles frutos eram “virados” duas vezes por dia (espalhados).Quando estavam completamente secos eram levados para descascar (os grãos) em uma moenda artesanal, dali ensacado e levado para torrar e moer até sair o produto final em nossas mesas no café da manhã.
Hoje usam máquinas modernas e motores para fazer o trabalho das juntas de bois, para descascar, e moer.
A produção de bananas é trazida para CEASA vendida pelo preço estabelecido.
As rapaduras são vendidas por produção na época da moagem ou negociada toda produção na Ceasa. O café é vendido também na Ceasa ou negociado para os grandes centros do país.
Minha terra tem dessas coisas!

terça-feira, 19 de agosto de 2008


DIA 16 DE AGOSTO ENCERRAMENTO DAS FESTIVIDADES DOS 150 ANOS DE BATURITÉ.

NOS SALÕES DO "BAC" ANTIGO CLUBE DA CIDADE, HOUVE UMA FESTA MARAVILHOSA AO SOM DE ZÉ MILTOM E SUA BANDA, TOCANDO MUSICAS DO PASSADO, DOS ANOS SESSENTA E OUTRAS MUSICAS PARA ATENDER A TODOS OS GOSTOS.

PARABÉNS A TODOS QUE FAZEM O "GRUPO "CONTERRANEOS E AMIGOS DE BATURITÉ" QUE PATROCINARAM TÃO MARAVILHOSA FESTA.

ESPERAMOS OUTROS EVENTOS IGUAIS QUE ABRACEM OS FILHOS E AMIGOS DE BATURITÉ DE ONTEM E DE HOJE! ASSIM É QUE SE FAZ HISTÓRIA!

LUA EM ECLÍPSE

Gracinda Calado

Esperei o eclipse lunar.
Meu coração estava aflito eu não sabia o porquê.
A lua estava mais ansiosa do que eu.
De repente tudo mudou e a lua escureceu...
Escureceu também meu coração.
Fiquei sem visão!
O que aconteceu com a lua?
O eclipse pegou-me de surpresa, afligiu meu coração.
Suspirei, chorei e a lua nem deu atenção!
Na sombra permaneceu calada, fria...
Aos poucos ela foi clareando, voltando ao normal.
Alegrei-me e sorri.
Pensei em desistir olhar a lua.
De repente sua luz brilhou fora do comum,
Uma alegria tomou conta de mim.
O brilho da lua era azul e ofuscava tanto que chorei de emoção.
A rua ficou clara como o dia, o riacho brilhava como folhas de prata ao vento da noite; os animais uniam-se em coito, as aves nos seus ninhos cobriam seus filhotes e se aninhavam esperando a madrugada.
Aquela lua era a lua mais bonita do mundo!
Tão bom tivesse todo dia um eclipse lunar!

AS CHEIAS DO RIO PACOTI


COISAS DA MINHA TERRA
( As cheias do rio Pacoti)
Gracinda Calado

Quem conhece Baturité sabe que fica ao pé da serra do mesmo nome, é a capital do Maciço. Seus limites fundem-se com as serras que se elevam entre Guaramiranga e Pacoty.
Na época invernosa Baturité recebe as águas que descem do rio Pacoty fazendo uma verdadeira ilha quando se encontra com o rio Aracoiaba.
Transparentes cascatas descem a serra numa agonia louca como se tivesse pressa para chegar ao mar. As cachoeiras que se formam no seu percurso são dádivas preciosas da natureza. Os poços e piscinas naturais que se perdem pelo caminho do rio ficam quase escondidos no meio das matas como se fossem noivas virgem esperando o noivo. São intocáveis. Grandes são as quedas d’águas desafiando a altura e as pedras que se acham pelo percurso do rio. A maior parte do leito do rio é acidentada com partes altas e baixas, na maioria cheia de pedras. O ronco das águas é tão grande no inverno que chega assustar
aos que não conhecem esse rio.
Em um certo trecho do rio Pacoty, no coração da cidade de Baturité acontece um fenômeno muito perigoso, principalmente no trecho que fica entre o sítio Olho d’água dos padres jesuítas e a ponte Putiú no bairro do mesmo nome.
Grandes cheias chamadas “cabeça d’água” têm acontecido, pegam as pessoas desprevenidas chegando até a arrastá-las para bem longe. O perigo é quando o rio começa a descer carregando grandes troncos de árvores e muito galhos, sinal que “a cabeça d’água” vai acontecer. Muitas vezes os troncos e galhos ficam presos nas pontes e pontilhões; destroem cercas e muros em lugares mais próximo ao rio.
No sítio chamado “pedrinhas” o rio alarga parece que vai engolir as plantações. No bairro “Lages” o prejuízo é maior. O pontilhão fica coberto completamente intransitável. As águas descem com muita força como se fossem uma enorme “ tissuname.” A passagem dos habitantes do bairro é feita por outro caminho mais longo para chegar à cidade. O maior paradoxo é a beleza do rio quando ronca levando tudo pela frente, desenfreado e volumoso parece um grande dragão devorando tudo. Testemunha que fui de tudo que estou dizendo, pois quando garota vi muitas vezes esses fenômenos de extraordinária beleza. O mais interessante que depois de alguns dias a garotada já está tomando banho nas mesmas águas que tão ferozmente enfrentaram a força do rio. Coisas da minha terra!

A PRAÇA SANTA LUZIA DE BATURITÉ

Por Mario Mendes Junior*

Hoje quadrilátera, a principal praça de Baturité, na primeira metade dos anos de 1930, foi concebida com uma via transversal, pavimentada de pedra tosca, interligando a Rua 15 de Novembro à Dom Bosco. Assim desenhado, o lugar público revelava a visão futurista do seu idealizador, uma vez que, naquele tempo, quase não existia trafego de veículos motorizados. Se apreciada pelo efeito arquitetônico, a abertura diagonal tracejava uma hipotenusa dividindo o quadrilátero em dois triângulos retângulos bordados de calçadas cimentadas, enfileiradas de bancos de madeira cada qual com uma muda de fícus benjamins, plantada, para sombreá-los depois de crescidos.
A 22 de outubro de 1933, antes da inauguração, o prefeito Ozimo Alencar abriu um plebiscito popular para escolha do nome da praça, e a dez de outubro do mesmo ano, uma comissão presidida pelo major Pedro Mendes Machado, apurou os votos, que se seguem: Praça Dr. Carneiro 2 votos, Praça Coronel Joaquim Mattos 16 votos, Praça Coronel Raimundo Maciel 21, venceu, porém com 685 o nome que até hoje permanece Praça Santa Luzia.
Na Capital da Serra, na década de 1950, tudo resplandecia. Jardim florido, canto mais pitoresco do lugar, o verde das árvores modeladas emprestavam à Praça Santa Luzia, de então, o caráter de cartão postal da cidade.
No triangulo do poente, em frente à casa do banqueiro Virgilio Bezerra, um benjamim, modelado qual jardim europeu, representava um elefante de tromba alevantada. Um pouco mais abaixo, em frente à casa do português Manoel Simões, a maestria do jardineiro escultor transformou duas árvores na figura de um avião. Ainda, nesse triangulo, em frente à Pensão Canuto, plantas menores decoravam um bosque florido, redondo, com bancos de madeira, pintados de vermelho, com suporte de ferro fundido, todos fixados de modo, que, seus freqüentadores, reunidos, pudessem conversar de frente uns para outros. Para mais além, depois do enorme tangue dágua, para irrigar o jardim, mas, às vezes, mal usado como piscina, bem na aresta do ângulo reto, de frente à casa que pertenceu ao coronel José Pinto do Carmo, outro benjamim simulava uma ave, pondo ou chocando seus ovos num ninho em forma de cubo. No triangulo do lado do sol, em frente ao Barracão das Carnes, que injusticavelmente foi demolido para dar lugar ao atual prédio do Banco do Brasil, uma touceira arbórea rasteira, idealizava uma estrela, adiante duas árvores se avultavam de cada lado do coreto e se abraçando no centro daquele palco a céu aberto, para delinear a escultura, obra prima do escultor de arvores anônimo: uma lira símbolo da música tantas vezes tocada, ali mesmo, em inolvidáveis retretas. Ainda, nesse segundo triangulo um benjamim muito crescido, em cima de um cubo de galhos e folhas, ostentava a estrela do ESPERANTO, um tributo à língua
COISAS DA MINHA TERRA
(Vida da Cidade)
Gracinda Calado


Viajando para Baturité, seguimos a estrada de rodagem rumo á serra de Guaramiranga e Pacoti, no alto do Maciço.
A viagem é agradável, principalmente quando passamos em Itapay e Antonio Diogo, pequenas elevações aparecem, alguns despenhadeiros onde passa a linha do trem rumo ao Crato. A visão é maravilhosa!
Chegando a Baturité nos deparamos com a estação ferroviária onde está exposta uma réplica da máquina a vapor, que fazia a linha Fortaleza-Crato. Ela levou o nome carinhoso de Laura 400. Fica no bairro Putiú.
Seguimos pela avenida D. Bosco, logo encontramos o colégio das irmãs salesianas de Maria Auxiliadora. É um colégio católico, cujo ensino é um dos melhores da cidade. As filhas de Maria Auxiliadora dedicam-se a formar seus alunos com uma formação moral e religiosa digna, como também prepará-los para o exercício da cidadania.
Na mesma rua temos o prédio dos Salesianos de D. Bosco, que em anos passados foi educador de rapazes, dentro da filosofia de D. Bosco. Hoje funciona uma escola pública.
Seguindo pela mesma avenida chegaremos à praça de Santa Luzia, muito arborizada, cujas árvores são ornamentações vivas em forma de animais e outras decorações.
Baturité é uma cidade que prima pela sua religiosidade e conhecida como a capital intelectual do Maciço. De longe avistamos o antigo colégio dos Jesuítas, no alto da serra, cuja arquitetura data do período colonial. Suas muralhas de pedra e cal desafiam a floresta ao seu redor.A beleza do verde se espalha por todo canto. Nas imediações encontramos uma estátua em tamanho natural , de nossa Senhora de FÁTIMA, no alto da serra abençoando toda a cidade. O caminho percorrido da cidade para a imagem da santa é feito em 365 degraus, em forma de via-sacra, onde em cada espaço há uma estação da paixão de Jesus, terminando na estátua da santa, no alto da serra.
Passamos pela igreja Matriz de N. Senhora da Palma, cuja arquitetura tem mais de 100 anos e guarda santos antigos da época colonial.
Em frente a igreja foi erguido um pelourinho em comemoração ao centenário da cidade, em 1961. Na mesma praça fica a Prefeitura , cujo prédio chamado Entre-Rios,de arquitetura secular , já foi palco de grandes momentos da história da nossa terra e do Brasil, pois lá autoridades de épocas remotas já foram recebidas em festas de grandes galas.
Tenho orgulho de minha terra.Ela é uma das mais importantes da história política do nosso estado, onde saíram de lá pessoas que se empenharam na política e na vida social do estado do Ceará.Como: vice-presidente, promotores, juizes, desembargadores, advogados, escritores, professores catedráticos no sul do país, médicos,engenheiros,uma gama enorme de pessoas de renomes no cenário político, cultural,como também religiosos como padres e freiras de congregações conhecidas internacionalmente.Por estas e outras coisas é que me orgulho de ser baturiteense.

COISAS DA MINHA TERRA
( Carnavais )
Gracinda Calado
Há muito tempo o carnaval deixou de ser uma festa familiar.
Na minha cidade festejava-se o carnaval como uma brincadeira familiar.
Os “corsos” eram preparados com antecedência por cada família.
Nos carros abertos crianças se vestiam de pierrô e colombina, de palhaços e marinheiros e desfilavam pelas ruas enfeitadas da cidade. Geralmente às 16:00, para que todos apreciassem a alegria momina.
Os adultos se vestiam de fantasias de seda de piratas, de reis e de rainhas. Lindas fantasias desfilavam pelas ruas em carro aberto jogando confetes e serpentinas, juntamente com o rei momo da cidade, levando nas mãos a chave da cidade.
Nos clubes da cidade as crianças dançavam com os pais, nas vesperais de domingo.
Á noite nos mesmos clubes, os adultos cantavam e dançavam lindos frevos e canções.
Os “cordões” se enfeitavam e desfilavam nos salões cantando marchinhas de carnavais passados.As músicas mais tocadas eram: Jardineira, Zé Pereira, Máscara negra, Mal-me-quer, Vassourinhas, As águas vão rolar, Me dá um dinheiro aí, A turma do funil e tantas outras que deixaram saudades!
A brincadeira era tão pura que brincavam todos de mãos dadas, fazendo rodas ou marcando passos de frevos no salão.O uso do cloretil era permitido, pois só perfumava os salões.
A banda do conhecido mestre Permínio era quem animava as festas, durante os três dias de folias. Em frente ao clube principal da cidade- BAC ( Baturité Atlético Clube) os apreciadores de festas de salão ficavam olhando do lado de fora na rua, que o povo chamava de “sereno”.
As fantasias eram simples, criativas, e bem elaboradas para aqueles dias: arlequim, pierrô, colombina, baiana, índio, árabe e tantas outras...
Quando o sol raiava a festa acabava.Os salões ficavam todos cheios de confetes e serpentinas.A festa acabava, mas não acabava a alegria da gente.
Quando chegava quarta feira era só saudades e nada mais!



COISAS DA MINHA TERRA
( as procissões)

Gracinda Calado

Geralmente eu acompanhava as procissões.
Semana Santa, ou Corpus Chiste.
Lembro-me bem quando todos se arrumavam no patamar da matriz, em filas organizadas dois a dois ou em alas direita e esquerda.
No centro o padre levava o Santíssimo Sacramento, que era coberto pelo palio, uma espécie de sombrinha grande e enfeitada de dourados e franjas.
Na frente às irmandades, as zeladoras, os grupos religiosos, depois as mulheres e os homens atrás.
O andor era muito enfeitado com palmas, e pano roxo, na semana santa. O encontro de Jesus com Maria sua mãe era o ponto alto da procissão.
Na festa de Corpo de Deus as ruas eram enfeitadas de flores, formando tapetes coloridos.
As fachadas das casas eram ornamentadas de toalhas e rendas de bordados e renascença. Costume da época colonial.
Alguns coroinhas iam à frente do padre levando castiçais e velas acesas, um sininho que tocava em cada parada para a bênção do Santíssimo. Todos se ajoelhavam e rezavam fervorosamente com muito respeito.
As pessoas devotas jogavam chuvas de pétalas de rosas.
As devotas rezavam e cantavam hinos próprios para a ocasião.
Aqueles hinos eram tão lindos que emocionavam a gente.
A procissão prosseguia até o seu final com a ultima bênção aos fiéis, e atrás as ruas ficavam perfumadas pelas rosas e pelo incenso que o sacerdote espalhava pelo caminho.
Que saudades que eu tenho da minha terra em dias de procissão!
O povo demonstrava sua religiosidade, seu amor ao Corpo de Deus e sua fé em tudo que a igreja professava!