DIVINO ESPÍRITO SANTO DE DEUS!

Divino Espírito Santo de Deus, que derrama sobre todas as pessoas as graças de que merecemos, hoje e sempre nos acompanha nas trajetórias de nossas vida. Amém.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

OS RIOS DA MINHA CIDADE



Gracinda Calado


Os rios da minha cidade nascem nas cabeceiras da serra, desembocam no meu coração. Em suas nascentes fios de água choram límpidos como o sangue de minhas veias.
Correm serenas suas águas, banham o leito do meu corpo, amenizando a temperatura de minhas veias.
Os rios da minha cidade arrastam lembranças, carregam saudades, de suas ruas, de suas vielas, de suas ladeiras e de seus casarões!
Os rios de minha cidade, pulsam em minhas veias como o sangue de minhas artérias, levam oxigênio ao meu coração.
Os rios de minha cidade, não são rios quaisquer, são lágrimas dos que se foram com vontade de voltar.
Os rios de minha cidade, carregam flores e frutos em seu seio de águas claras, enfrentam pedras e árvores, nos caminhos mais difíceis, enfrentam secas e torrentes, invernos e verões, correm com o vento e o tempo, levam lembranças, saudades que vivem sempre em meu pensamento.
Os rios da minha cidade já me banharam em batismo, como a pia batismal do maior sacramento, da igreja e do sacrário da minha santa da Palma, onde nasci e recebi o meu nome primeiro.
Os rios da minha cidade não param de correr, passam em montes e barrancos, ruas e vilarejos, como a vida de seus filhos que não cansam de viver.
Os rios da minha cidade correm em meu corpo inteiro, levam saudades infindas da minha mocidade. Os rios da minha cidade são os rios do meu coração, foram ontem, são hoje e serão sempre guardados no meu coração!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

LEMBRANÇAS DE BATURITÉ

LEMBRANÇAS DE BATURITÉ

Gracinda Calado

À tardinha tinha o costume de passear nas calçadas largas, enfeitadas de árvores de benjamins muito verdes, sentindo o cheiro de mato que vinha na brisa suave da serra.

Dirigia-me à casa das “Francos”, conhecidas como: Doralice, Iolanda e Maria Alice. Pessoas castas, puras, nem televisão possuíam para não ver as coisas do progresso, nas novelas e nos filmes. Para elas tudo era pecado.

Um dia nas minhas férias trouxe para Fortaleza a Maria Alice, a fim de se tratar de uma esclerose múltipla. Em minha residência todos os dias ela assistia as novelas e gostou muito, viu que não era tão mal...

Ao voltar para Baturité levei com ela, (Maria Alice) uma televisão preto e branco, de 14 polegadas. As irmãs resistiram em ligar o aparelho, para não verem os beijos das novelas, depois quando já decidiram ligar o aparelho e isso aconteceu depois de uma grande luta. Elas fechavam os olhos na hora dos beijos, fechavam os olhos para não haver o risco de pecarem.

Depois que se acostumaram não queriam mais desligar o aparelho.

Sua residência era contornada de flores e o perfume de rosas se espalhava por toda a rua e a todos que passavam aguçava a curiosidade de parar para ver o que acontecia naquele lugar tão prazeroso! Iolanda era a encarregada de cuidar das plantas e das flores do jardim, como também dos doces que nos oferecia no lanche da tarde com biscoitos sequilhos que ela mesma fazia.

Conversávamos bastantes, rezávamos o terço às seis horas e o ângelus, enquanto Doralice com a sua sabedoria impecável, contava histórias de romances que ela lera. (ela leu 1000 romances). Dentre todos, os clássicos de autores portugueses, espanhóis e sempre os brasileiros da sua predileção, como Machado de Assis, que ela tinha uma adoração, pois havia lido todos os romances de Machado.

Forçadamente desde pequena criei o habito de ler por causa de Doralice que me castigava para contar os romances que eu lera durante a semana. Felizmente fui gostando da brincadeira e me apaixonei ela literatura. Devo a minha amiga Dora, que carinhosamente chamava assim, com ela trocava saberes literários e me sentia muito bem.

Uma coisa engraçada, “aconteceu” quando Maria Alice faleceu, coitada, pela manhã já estava morta enquanto as outras a esperavam para o café da manhã. Iolanda chamou-me e disse: “Não quero ver a cara de Maria Alice, tenho pavor a defunto”, logo eu indaguei:”e quando for você”? “Ora, nem me fale, não quero saber dessa coisa horrorosa de morte. Quando eu morrer não quero que ninguém me veja morta. Vou fazer o possível para não morrer”. Comecei a rir...

Ela disse-me: “Não quero ver a Dora morta, tenho medo dela. Acho que vou morrer de medo se ela for primeiro que eu.” Falava-me assim da morte e eu sentia que ela tinha medo de morrer, para ela era um suplicio o assunto.

Morreu a Iolanda, ficou a minha amiga Doralice. Depois de algum tempo seus familiares a levaram para Fortaleza, de onde ela nunca havia ido, nem conhecia de fotos, pois para ela, era lugar de perdição.

Morreu minha amiga Dora aos cem anos. Sem razão de si mesma, demente, e nem mais se lembrava dos seus romances e de suas aventuras literárias. Foi se encontrar com os que na sua vida só lhe deram prazer de ler os seus romances.

Sou muito grata a ela pela influencia de seus livros que hoje repasso a alegria do que aprendi aos meus filhos e netos.

Obrigada Doralice!

ADEUS A MINHA AMIGA DORALICE

(UMA SAUDADE ETERNA)
Gracinda Calado
Recebi a notícia da morte de Doralice, fiquei muito triste, porém ela cumpriu sua missão na terra, e aos 100 anos, se foi levando na sua bagagem a devoção a Nossa Senhora, o amor a Deus acima de tudo e a certeza da salvação eterna, que ela sempre pregava aos amigos mais próximos.
Doralice foi uma amiga que gostava de ler e contar histórias... A sua vida inteira dedicara-se à leitura. Foi professora primária, porém seus conhecimentos superavam o grau de escolaridade que ela teve na mocidade. Quando nos aproximávamos dela tinha logo uma boa notícia de um bom livro que lera ultimamente.
Todo o meu amor pelos livros e pela literatura eu devo a essa mulher, pois quando pequena me emprestava livros de histórias, e romances na minha adolescência. O tempo passou e ela já estava velhinha e eu sempre a visitava nas férias, levando na sacola um bom pacote: livros e revistas culturais. Ela ficava ansiosa para lê-los logo, não tinha tempo mais para nada!!!
Que felicidade ela me proporcionou, e eu tenho certeza que a ela proporcionei também muita alegria!
DORA foi secretária de meu querido pai, na junta de alistamento militar nos anos 40 e 50, até 61. Ele terceu elogios grandiosos a sua pessoa e de muita gratidão pelos serviços prestados a ele e ao Exército brasileiro, na época da guerra.
Agora amiga Doralice, repousa no céu, tenho a certeza disto, pela mulher pura e virtuosa que era. Obrigada Deus, por ter conhecido em toda a minha vida uma mulher como Doralice Franco!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

UIRAPURU

GRACINDA CALADO
VÔA UIRAPURU, NESSE CÉU IMENSO, ONDE AS ESTRELAS FAZEM O SEU BANQUETE!

VÔA ENTRE AS ÁRVORES DA SERRA, SEM RUMO E EM LOUCO DESATINO.

VÔA NOS RICÕES DO MATO VERDE DA FLORESTA, ENFEITADA DE FLORES E IPÊS.

PÁSSARO CANTADOR, SEU CANTO É TRISTE COMO A PRECE DOS DEUSES FLORESTAIS!

EM HARMONIA CANTA TODAS AS CANÇÕES DOS ANJOS E ORFEUS.

SEU BICO DOCE E MÁGICO CANTADOR, CANTA ESCONDIDO NAS FOLHAGENS VERDEJANTES.

MAGIA E ENCANTAMENTO DAS PASSARADAS E DOS BEIJA-FLORES,

SEGURA O CANTO COMO SE FOSSE MORRER DE DORES.

SERESTEIRO CANTADOR DA MINHA TERRA, CANTA CANÇÕES DE AMORES.

VÔA UIRAPURU, CANTADOR DAS MATAS VIRGENS ESCONDIDAS

NOS RICÕES DAS SERRANIAS VERDEJANTES, VÔA ALTO SOLITÁRIO,

MOSTRA SEU CANTO DE BONITO MUSICAL DAS PLAGAS ESQUECIDAS.