GRACINDA CALADO
Onde ficaram tuas lembranças verdadeiras?
Teu sal que o sabor nos dava no alimento,
Onde ficou teu cheiro de café pilado,
O doce mel do açúcar na coalhada,
Onde ficou todo perfume espalhado
Pelo chão da sala e da cozinha?
Sabor igual ao pão francês não há,
Café com leite desnatado no fogão.
Ainda sinto o sabor dos teus beijus,
Tuas cocadas feitas de marrom glacê,
O leite mugido na hora certa matinal,
Minha querida Maria soprando o fogão à lenha,
Sustentava o abano de palha pra lá e pra cá,
Como se fosse sua, a vida dos que dela precisavam.
O alimento era a solução do corpo,
O pão todos os dias bem fresquinho,
Deslizando nele a nata branca.
Nas ruas enladeiradas, cobertas de pedras,
Vendedores de guloseimas oferecem seus produtos,
Naturais da serra: o mel, os alfenins e a rapadura,
Deixando em nossa boca o gosto a salivar.
No mercado, as frutas bem fresquinhas,
Mangas, cajus, goiabas, mamãos e maracujás.
Na porta a domicilio o leite fresco e puro,
O pão na padaria, as broas e biscoitos de fubá.