DIVINO ESPÍRITO SANTO DE DEUS!

Divino Espírito Santo de Deus, que derrama sobre todas as pessoas as graças de que merecemos, hoje e sempre nos acompanha nas trajetórias de nossas vida. Amém.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CADEIRAS NA CALÇADA (memórias de Baturité)

Gracinda Calado
Todas as noites soprava o vento do Cangatí.

O calor era grande e na calçada todos se reuniam para tomar uma fresca na hora que o vento passava.

Ali , na calçada pessoas passavam, algumas paravam para trocar um dedo de prosa.

Não havia quem não se aproveitasse daquela situação singular, com suas cadeiras de balanço na mesma hora e local na calçada.

Vizinhos se reuniam para aproveitar o frescor nas largas calçadas da cidade.

Vendedores de picolé, de coxão de noiva,’ tijolim,’ cocada, puxa-puxa, etc,

.iam e vinham vendendo seus produtos e guloseimas aos freqüentadores das calçadas.Os assuntos que saíam nas conversas, dependiam dos acontecimentos daquele dia: quem fugiu com quem, quem se casou com quem, “fulano se separou, a filha do sr.F está no caritó, o menino do casal R, nasceu”, e por ai se desenrolava até meia-noite o “converser.” Às vezes as gargalhadas ecoavam no silencio da quase madrugada, quando a conversa era engraçada.

Quem morreu, quem nasceu, todos os freqüentadores das calçadas sabiam logo, e ao,amanhecer as noticias saíam quentinhas como o pão da padaria mais próxima.Em meia hora toda a cidade já sabia o que acontecera durante a noite.

Mesmo assim era muito divertida a vida na cidade!

Hoje não se pode mais sentar nas calçadas...

Todos se fecham em suas casas e obrigatoriamente vão assistir televisão.

Até quando viveremos assim, prisioneiros, dentro de nossas próprias casas!

Os cadeados são a segurança, o pavor assola a cidade e não se tem mais aquele aconchego gostoso dos tempos atrás em que todos se socializavam com suas trocas de experiências ou ajuda mútua nos momentos difíceis em família. As novelas não substituíram ainda a reciprocidade de amizades entre as famílias que antes se agrupavam nas suas calçadas saboreando o prazer do luar de verão ou a brisa que soprava nas quase madrugadas.

Dizem que é o progresso, o culpado pela dessocialização e a individualidade entre as pessoas, principalmente nas cidades do interior.

O medo tomou conta de nossas emoções; não podemos mais confiar nas pessoas, principalmente nas ruas.



Um comentário:

Inti fada Comunista disse...

Sinto saudades de qdo brincava na calçada....anos 80!!