DIVINO ESPÍRITO SANTO DE DEUS!

Divino Espírito Santo de Deus, que derrama sobre todas as pessoas as graças de que merecemos, hoje e sempre nos acompanha nas trajetórias de nossas vida. Amém.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O BAR DO LEÔNCIO






O Bar do Leôncio
Mario Mendes Júnior (*)

No quarteirão sul do mercado, entre as bodegas do Zé André e do Joaquim Traçáia, bem de frente ao Barracão das Carnes, o boteco do seu Leôncio era o ponto mais eclético de Baturité nos anos quarenta e cinqüenta. Pai de uma família enorme, cidadão branco, limpo e educado, o seu Leôncio chegara à Baturité, talvez, na companhia do irmão Abel Pereira, este trazido por Elias Salomão para gerenciar a sua Casa Síria na Rua Sete de Setembro, isto, por volta de 1932.
Como os outros estabelecimentos daquele pedaço de rua o boteco, também, compensava o desnível do piso de acesso ao mercado com dois batentes de pedra tosca na porta da frente.
Uma bacia de barro para mergulhar a louça usada, um escorredor de madeira para receber os copos enxaguados, e, mais, uma balança de dois pratos metálicos, três os objetos elementares no tipo de negócio, compunham o balcão de tampo de madeira que dividia o espaço interno em dois ambientes.
Do lado de dentro o fiteiro com carteiras de cigarros, Asa, BB, Globo e Astória, da Cia Araken, ou Continental e Hollywood da Souza Cruz; nas prateleiras somente bebidas tradicionais - conhaque de alcatrão, vinhos e quinado Imperial -, e as nativas cachaças, das quais a preferida era a Estrela; num canto, uma mesa rústica cheia de tira gosto, de frutas da estação ou salgados vindos de fora; noutro canto uma caixa de cerveja, de madeira, com as garrafas, casco escuro, deitadinhas uma sobre as outras, cada uma encamisada de palha, portanto, livres da claridade e do perigo de se quebrarem. Do lado de fora do balcão um ou dois viciados, quase sempre, sentados nos poucos lugares das mesas. Eles esmolavam a dose de cana, que repartiam com o “santo”, derramando o sobejo no pé do balcão, prática que, até hoje, empesta os ambientes do ramo com odor impregnado da “água que passarinho não bebe”.
Preferido na cidade, o raio do lugar agregava os comerciantes, políticos emergentes, ricaços donos de sítios e outros tipos diversos, todos atraídos pelo serviço perfeito do dono e, é claro, pela cerveja Bohemia, esfriada no alguidá debaixo do pote cheio d’água fria vinda pelo encanamento da serra. Naqueles tempos, geladeira, só na padaria do português Manoel Simões que não vendia bebidas alcoólicas.
Freqüentador dos mais extravagantes, o comunista filho de latifundiário, Heitor Maciel, conhecidíssimo por sua insolência de ateu convicto, ao descer da serra montado numa burra de nome Favela, ao se apear defronte ao bar, antes de começar a beber, ordenava ao Leôncio que servisse à animália quatro garrafas de cerveja derramadas numa bacia. A mula depois de se saciar, lambia os beiços sem disfarçar o enorme prazer de sorver o líquido, para muitos, não indicado para animais de sela.
Bacharel em Direito e Empresário (toda responsabilidade do autor)

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