A CASA DA MINHA INFÂNCIA
Gracinda Calado
Olhando o seu retrato, volto
a pensar os dias felizes que junto a ela passei. Seus arvoredos me falavam de natureza madura, pura , singela, que falava
aos passarinhos, e se entregava toda inteira aos pardais. Vejo seu telhado
antigo, desbotado do tempo e dos ventos, inspiravam tranqüilidade e segurança.
Pela manhã no jardim, rosas se abriam como sorrisos de alegria,
enquanto os beija-flores ansiosos chegavam para sugar o mel em competição com as abelhas. A força do
colibri parado no ar me causava admiração, e as abelhas zumbindo em forma de
círculos me deixavam tonta.
Quando olho sua fachada
antiga, lembro-me dos casarões da minha cidade, e as ruas enfeitadas de
benjamins, suas avenidas ajardinadas e as ladeiras que eu não me cansava de subir
e descer, ora para ir ao colégio, ora para ir à Igreja, ou passear na cidade!
Os jacarés que derramavam
água como animais de bocas abertas, encravados na fachada da frente, eram
divertimentos nos dias de chuva, onde a criançada disputava um lugar debaixo de
cada boca de jacaré para sentir o gosto da chuva caindo em suas cabeças.
Parece que estou ouvindo as
palavras de minha mãe chamando para trocar de roupa, ou escovar os dentes,
fazer os deveres de casa, sentar à mesa que já era hora de almoço ou jantar.
Meu pai gostava de cortar canas e descascá-las para nós, parecia uma festa,
ainda ouço o ranger dos dentes de cada um sugando o mel da garapa da caiana.
Na sobremesa era
indispensável as frutas do sitio: cajaranas, mangas, bananas, sapotis, atas e
muitas outras de época.Felizmente soubemos aproveitar todas as qualidades de
vida que a natureza nos presenteou em nossa convivência naquela chácara.
Falei das flores e dos frutos,
não podia deixar de falar dos caramanchões que cercavam as laterais da nossa
casa. Brincávamos debaixo deles como se fosse o nosso paraíso! Tinha acácias
vermelhas, trepadeiras amarelas e
florzinhas lilases mas não me lembro o nome.
Casa velha, que ainda
recordo o meu sono na rede, armada no alpendre do lado. Nela sonhei com
pardais, com coqueirais, com o mar, com as praias lindas do meu Ceará e hoje
estou aqui vendo o mar e com vontade de voltar para a minha casa antiga na
minha linda cidade de Baturité!
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