DIVINO ESPÍRITO SANTO DE DEUS!

Divino Espírito Santo de Deus, que derrama sobre todas as pessoas as graças de que merecemos, hoje e sempre nos acompanha nas trajetórias de nossas vida. Amém.

domingo, 31 de maio de 2009

AS LAVADEIRAS




AS LAVADEIRAS
(Gracinda Calado)

Quando eu era criança, apreciava as lavadeiras que iam todos os dias lavar roupas no rio.
A nossa casa ficava às margens do rio Pacoti, em uma grande chácara.
Em frente a casa havia uma grande ladeira que dava acesso a um bairro, chamado “ Boa vista”, lá moravam muitas lavadeiras.
Essas mulheres sobreviviam das lavagens das roupas das famílias abastadas da cidade.
Todas as manhãs, quando o sol despontava as lavadeiras desciam a ladeira com suas trouxas de roupa para lavar no rio que se chamava “rio das lajes”, afluente do Pacoti, pois era coberto de pedras enormes. No verão o rio secava e as lavadeiras sofriam muito com a escassez da água.
Enquanto elas lavavam aquela roupa toda, eu ficava horas perdidas, olhando dona Rute e dona Rosa na lavagem da roupa branca.
Queria saber o que elas faziam para deixar aquela roupa branquinha e cheirosa.
Quando estavam cansadas costumavam cantar algumas músicas, não me recordo bem as letras.
O local era propício para estender roupa, nas pedras, que elas chamavam de “coradouro.”
Duas ou três vezes durante o tempo do coradouro, elas vinham aguar a roupa para não queimar ao sol. Quanto mais quente o sol, melhor para a roupa ficar branca.
Muitas vezes não comiam nada, até que terminasse o serviço.
Finalmente às quatro da tarde elas passavam em frente a nossa chácara, subiam a ladeira com toda aquela roupa na cabeça, amarrada como uma trouxa, de volta pra casa.
O cheiro de roupa limpa, lavada com sabão em pedra, a gente sentia de longe. Não usavam alvejantes, nem amaciantes, nem anil.
Outras estendiam suas roupas em uma cerca de arame, para secar mais depressa, com a ajuda do vento e do sol; voltavam para casa mais cedo.
Suas mãos eram calejadas, sua pele era queimada, quase tostada. Seus cabelos ressequidos. Assim mesmo todos os dias as pedras do rio estavam cheias de lavadeiras.
No dia seguinte ao da lavagem, ficavam em casa para com ferro passar toda a trouxa, que lavaram no dia anterior. À noite subiam as ladeiras da cidade para chegar ao centro e entregá-las aos fregueses certos: do doutor, do prefeito, do juiz, do vigário, do promotor.
Quanta determinação naquele trabalho, tanto amor, tanta dedicação!
Até hoje não esqueço dona Rute e dona Rosa. Elas eram brancas e loiras, seus lábios sempre rachados da quentura do sol. Viviam da lavagem e do engomado.
Muitas vezes, eu e meu pai, ficávamos no alto das pedras no sítio, olhando aquele ritual diário das lavadeiras. Passavam em procissão, parecia uma penitencia diária.
Quando era safra das frutas, levávamos cestos cheios de fruta para elas, ficavam agradecidas.
Mantive por muito tempo um sentimento de amor e respeito muito grandes por todas elas. Não sei se dona Rute e dona Rosa ainda estão vivas... Talvez bem velhinhas...
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sexta-feira, 29 de maio de 2009

MINHA SANTA DA PALMA

Gracinda Calado

A cidade de Baturité tem como padroeira nossa Senhora da Palma.
Foi trazida pelos Portugueses no século XIII.
Aproximadamente tem 200 anos, estilo barroco, pintada a ouro, revela o bom gosto da época. Encravada no coração da cidade, na Igreja Matriz onde ocupa as honras de padroeira da cidade.
A Igreja possui arte bizantina com predominações do barroco sendo a única no Brasil a apresentar estas características. Foi construída no século XIII.
Antes da fundação da cidade, os índios Jenipapos e Canindés, primeiros habitantes da região do Maciço, veneravam a imagem de N. Senhora da Assunção. A denominação de N. Senhora da Palma foi criada em oito de Maio de 1758, mas só foi instalada em 19 de Junho de 1762.
A Igreja de N. Senhora da Palma dispõe de duas naves, sete altares, três sinos e um grande relógio público. Comporta até três mil pessoas. No seu interior há instalação de cenas bíblicas em pintura a óleo em estilo clássico, executadas por artistas da região: Raimundo Seabra e Pe. Luis Bezerra.
Hoje bastante modificada na sua estrutura interna sustentando o tempo e o seu bi-centenário de existência.
Em 1824, durante a Confederação do Equador, a Igreja de N. Senhora da Palma, foi transformada em depósito de pólvora e depois de armas e munições.
Hoje é uma Igreja que é símbolo da resistência, visitada por turistas e conhecida em toda a região como a mais bonita e freqüentada da região do Maciço de Baturité, pela sua arte, devoção e simplicidade.
MINHA SANTA DA PALMA
Minha santa da Palma, Nossa Senhora da assunção, que é festejada na Igreja católica no dia 15 de Agosto, traz ao seu seio milhares de fiéis que vêem com devoção pagar promessas pelos milagres recebidos e pelas graças alcançadas.
Aos seus pés depositamos nosso trabalho, nossos sofrimentos, nossas inquietações, nossas alegrias e nossos louvores.
Em seus altares chegamos mais perto do Cristo Jesus que na cruz morreu por nós, pelos nossos pecados e pelos pecados do mundo inteiro.
Bendizemos a santa mãe, a paz da nossa cidade pacata, tão linda, tão bela, recebe a todos com carinho e a hospitalidade que lhe é peculiar.
Abençôa querida mãe seus filhos, principalmente os que estão mais distantes e queriam tanto lhe ver!
Virgem da assunção eleva os nossos corações ao Criador e protege-nos dos males do corpo e da alma, para que assim possamos ser seus filhos verdadeiros como você quer!
Em seu altar enfeitado de flores brancas perfumadas cantam anjos em coro e harmonia aos seus pés, e em sua cabeça ornada de ouro, brilha a mais linda coroa, excelsa rainha do céu e da terra!
Em seu manto azul e branco, as estrelas do céu e as belezas do universo!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

É NOITE!







É NOITE!
Gracinda Calado

Da janela eu vejo a lua saindo! Tudo fica calmo e em paz.
Uma música distante chega aos meus ouvidos, e um turbilhão de lembranças e saudades me desperta.
Esta música suave trouxe de dentro de meu ser, arrancando fantasias, fatos que marcaram minha vida.

Num instante vi meu pai pensativo, fumando seu charuto, não batia os olhos, fixos que estavam no passado. Queria tanto adivinhar o que se passava em sua cabeça de homem sofrido pelos horrores da guerra que atravessou.

Lembrei-me do meu amor, que já partiu pra eternidade, quando juntinhos passeávamos pela praça de mãos dadas fazendo juras e projetos. Lembrei-me de seu sorriso lindo, seus olhos castanhos, sua pele rosada, seu perfume.
Nós dois, jovens apaixonados, quanta ilusão passageira!

É noite! A música me devolve ao passado, me traz as saudades da minha mãe ainda jovem, a caminho da igreja para rezar.
As amigas que brincavam de pega-pega no quarteirão; onde estarão agora todas elas?
Lembrei-me do luar da minha terra em pleno mês de Maio, onde as estrelas só faltavam pular ao nosso encontro, e o som daquela música me levava além das montanhas, das serras onde eu passeava em tempo de férias, aproveitando os mistérios da natureza.

A noite me fez recordar os bate-papos na casa de Doralice Franco, uma amiga muito querida, que tinha um jardim florido, cheio de rosas e flores variadas as quais exalavam um gostoso perfume. Quem passava em frente à sua casa parava para saborear o odor dos jasmins. Gostava das ‘angélicas’, branquinhas e muito perfumadas.

É noite no meu coração de outono, onde espero ainda a primavera chegar e com ela o recomeço de uma vida nova, mais alegre e alvissareira.
O coração bate ao som da música divinal e a minha alma acalma-se na proporção que a música se finda.
Lembranças da minha terra natal, Baturité, onde fui feliz e tinha tudo que eu queria.
Minha querida Passárgada.

terça-feira, 26 de maio de 2009

TEMPO DE ESTUDANTE


TEMPO DE ESTUDANTE

Gracinda Calado

Quem não se lembra do seu tempo de estudante!
A vida era uma perfeição! O tempo não parava tudo era muito rápido.
No colégio o ano letivo começava em Março, logo em Junho fazíamos provas semestrais e em seguida as férias de Julho. Em Agosto tudo voltava ao normal, às aulas iniciavam um novo período letivo. Os feriados nacionais, católicos, civis e outros, nos deixavam entusiasmados e cheios de projetos.
No final do ano sempre a expectativa das notas e boletins.
Época de estudante, descontração, alegria, tudo era brincadeira, mesmo as coisas mais sérias eram dramáticas; transformavam-se em gargalhadas como, um espetacular escorregão na rua.
Os encontros debaixo das árvores da praça, os amigos, as novidades em músicas e artistas de cinema, as anedotas, as gargalhadas, as combinações de novos encontros no cinema.
Nossa terra cheia de jardins nos dava inspiração aos romances.
O primeiro namorado no portão, o primeiro beijo, a primeira poesia, o primeiro bilhetinho etc. Os passeios no Mosteiro dos Jesuítas, a via-sacra ao sopé da serra, os banhos de cachoeira no poço da ‘moça’, as grandes caminhadas subindo a serra.

Primavera febril, ritmo alucinante, corpos ardentes, alma delirante!
Assim éramos nós, cheios de atividades e de inovações.
Inventávamos passeios, brincadeiras, atividades movimentadas, o Clube dos Estudantes que para nós era uma grande atração, o BAC e suas tertúlias aos domingos.
No mês de Maio em nossa linda cidade de Baturité, dançávamos nos grandes bailes das festas das “flores”, sempre com uma grande orquestra da capital no BAC (Baturité Atlético Clube).
Os banhos de piscina no balneário, com águas naturais das fontes da serra, que jorravam o dia todo. Os bingos dançantes, os carnavais animados, as festas juninas, as quadrilhas e os bailes de debutantes nos finais de ano.
Quantas recordações daqueles tempos fagueiros!
Nossa vida estudantil era um brilho sem igual, nosso colégio querido, Nossa Senhora Auxiliadora, nossas professoras amadas e respeitadas, vivem até hoje em nossos corações.
Nossos amigos de infância, (muitos já se foram), ficaram as saudades de um tempo muito feliz cheio de recordações!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A CHEGADA DO TREM EM BATURITÉ




A CHEGADA DO TREM EM BATURITÉ.
Gracinda Calado

Foi longe o tempo em que em Baturité o único transporte de passageiros era o trem, da RVC.
Nos anos sessenta ainda alcancei a chegada do trem que ia para o Crato levando esperança e muita alegria aos estudantes na época de férias.
Era uma época muito bonita em que todos logo faziam amizade durante a viagem e seguiam na maior animação.
O trem era ainda conduzido pela máquina à carvão e seus bancos eram bem confortáveis.
Lá nas entranhas das serras ou nas curvas do caminho se avistava a fumaça que dominava o espaço como uma nuvem espessa de carvão.
Durante a viagem as pessoas se aproveitavam da visão maravilhosa, dos canaviais, das plantações, dos roçados de milho e de feijão na época junina. Os animais que pastavam na beira da estrada, as vaquinhas, os cavalos, e quando o trem chegava a Baturité, as vendedoras de frutas gritavam com os cestos na janela do trem: “Oia as uvas maduras, oia as laranjas e tangerinas, vendo banana seca”, e assim vendiam tudo que ofereciam.
Na época a máquina do trem mais importante era a 400, que carinhosamente o povo chamava de Laura 400. Hoje tem uma réplica dela no bairro Putiu, no museu à disposição de visitação aos turistas e a todos que se interessam saber sua história.
O bairro Putiu fica distante da cidade, é um dos bairros mais antigos e prósperos de Baturité. Em cima do alto fica a Igreja de Cristo Rei que na época de sua festa traz uma grande multidão para festejá-lo.
Na estação de trens, os alunos dos colégios Salesianos, iam sempre para assistir a saída do trem rumo ao Crato ou outras cidades do centro sul.
A animação era total. Momentos de grande lazer naquela hora da manhã, 09h30min precisamente.
Os vendedores de tapioca, tijolim, e outras guloseimas entravam nos carros parados e vendiam aos passageiros seus produtos.
Baturité era conhecida pela fartura que se ofereciam na passagem dos trens.
Que bom se voltasse aquele tempo festivo, inocente, feliz!
Hoje não se conhece um vagão de trem, nem a maravilha que é viajar de trem.
Precisamos resgatar o tempo áureo dos anos dourados da nossa vida!

domingo, 17 de maio de 2009

CHOVIA NA CIDADE SERRANA


Chovia na cidade serrana.

Gracinda Calado

Chovia na cidade e a noite chegou mais cedo.
Os pássaros foram ao encontro dos seus ninhos agasalharem seus filhotes.
O céu parecia uma espessa nuvem de fumaça.
Nas ruas os transeuntes passavam de guarda chuva e os pés encharcados pela lama que escorria das imensas ladeiras escorregadias de barro.
Crianças procuravam o rio que corria com muita água, parecia um grande mar vermelho.
A criançada vibrava com o acontecimento da época que trazia alegria para todos.
No leito do rio, troncos de árvores desciam em uma desesperada corrida entre as pedras que cobriam o leito do rio e o rio em grande enchente exibia uma grande e majestosa visão espetacular da natureza.
No pontilhão que ajudava a passagem dos pedestres, algumas pessoas dançavam pra lá e pra cá, numa desesperada travessia para a outra margem em segurança, enquanto alguns homens do povo ajudavam as mulheres inseguras.
Alguns animais como cães e gatos, galinhas, e outros desciam na correnteza em busca de salvação, porém não encontravam apoio naquelas águas velozes rumo ao mar.
Quando as águas baixavam tudo voltava ao normal, e no rio grandes poços dágua ficavam cheios, deixando a meninada farta de alegria para seu banho de lazer e brincadeiras.
Os dias de chuva lembravam catástrofes, que em outras eras aconteceram no lugar.
Este lugar era chamado Lages, na cidade de Baturité.
Ficávamos apreciando o grande espetáculo até as águas voltarem ao seu curso normal.


quarta-feira, 6 de maio de 2009

QUANTAS VEZES NASCI...


Quantas vezes nasci, cresci, morri.

Gracinda Calado

Quantas vezes nasci! Quantas vezes cresci, chorei, amei vivi, morri!
No passo desse embalo, revivi sessenta e oito vezes,
E me perdi na imensidão dos meus pensamentos.

Quantas vezes vi o sol nascer!
Quantas vezes vi a lua surgir!
Quantas vezes vi o mar levar suas ondas para outros continentes!

Assim me entreguei sem temores aos encantos da vida que me trouxe a felicidade.
Meu sol resplandeceu e brilhou em mim,
Ao encontro da minha existência que não é curta.

Debruço-me em minhas rugas quase poucas.
Em meus cabelos quase brancos,
Em meus olhos quase negros,
Em meus pensamentos maduros,
Em minhas mãos quase trêmulas.
Em minha pele quase sem viço,
Em meu corpo quase cansado, mas que ainda resiste ao tempo.
Em minha voz quase rouca de exclamar vitória!
Em meu perfil de mulher guerreira, aventureira, quase forte.
Em minha alma de rainha e mãe, de mulher, de professora,
Em meu jeito de falar e de tocar na alma das pessoas!

Viverei quantas vezes for preciso viver, nascer e morrer,
Para que eu tenha sempre os filhos que eu tenho, os irmãos que eu ganhei,
Os netos que me presentearam, os amigos que conquistei para sempre!